Furya Adventures 02 – Diário de Sessão 04
O monge severamente torturado conhecido como Leozin recolhia informações dos cultistas quando chegamos e o resgatamos e agora resolveu compartilhar o que descobriu. Muito do que foi exposto a gente já sabia, um culto de dragão, seres extremamente poderosos, uma dragoa deusa destruidora que o culto quer invocar e essas coisas que só o Dovah entende. O que pesquei é que se essa monstrenga for invocada, vai ser o fim do mundo como conhecemos, vai ser dedo no sul e gritaria.
O mais importante e que veio apenas coroar a decisão de lutar contra isso foi quando ele ofereceu 750 moedas de ouro pra gente ir investigar um pouco mais sobre esse culto, eu já faria isso de qualquer forma, sou muito novo pra morrer, 70 anos não é nada, mesmo pra alguém sofrido como eu. O resto do grupo também não precisou pensar muito, estão todos preocupados com essa deusa e seu exército que não para de crescer.
Fizemos compras. Tentei ajudar o Raul a devolver um martelo de guerra relíquia de família que ele tinha pego com um anão de Verdeninho, até paguei do meu bolso uma arma nova pra ele, mas o antigo dono não quis aceitar a devolução e novamente eu tive uma prova de que minhas boas ações nunca funcionam, não sei porque ainda insisto.
Depois das compras fomos para uma caverna indicada por Leozin que ficava exatamente onde tivemos a festa cultista e resgatamos os escravos, claro que a contragosto, pois aqueles milhares de kobolds, cultistas e adeptos deixam qualquer um bem nervoso, mas chegando lá uma surpresa, estava tudo vazio exceto por um grupo de caçadores que pareciam bem apáticos ás nossa perguntas.
Chegamos à caverna e todos puderam mostrar novas habilidades, exceto eu que não tive oportunidade, mas a que mais me espantou foi Cleyde, já ando com ela há tanto tempo e não sabia que sua habilidade de matar era tão precisa e poderosa. Foi fenomenal. O Anão e o Herói também mostraram umas coisas bem interessantes.
Encontrei uma passagem na caverna, muitos cultistas dormindo, foi divertido pra mim e Cleyde fazermos um extermínio em massa, mas logo nos deparamos com a meio-dragoa azul de alto poder que já deu as caras antes. A batalha foi fácil até ela fugir, eu fiquei pegando espólios e um disfarce no baú enquanto os outros foram atrás dela, essa maldita não poderia fugir!
Terminado meu saque eu desci as escadas de onde vinha barulho de combate, tranquilo, já estou me acostumando, mas me deparo com uma cena terrível, todos feridos, um general meio-dragão azul de extremo poder, Raul cercado, Dovah afastado, o anão ainda tentando se ajeitar no combate e Cleyde muito machucada… Maldita hora que eu resolvi ficar para trás…
Os arcos novos que compramos tinham defeitos de fabricação, nem eu nem Cleyde conseguimos fazer nossos habituais assassinatos-uma-flecha-uma-morte… todos lutavam com o melhor que tinham e então… Um brilho de luz estrondoso atravessou o corpo da minha elfa preferida, Cleyde foi ao chão, sem se mover. Corri, dei poção de cura, Raul ajudou com suas mãos brilhantes e ela não se movia, havia um buraco em seu abdomem… Alguém deve ter conseguido terminar a batalha, eu não sei, não vi mais nada, só a sombra dos meus companheiros em volta de Cleyde nos meus braços.
Minha vida passou sob meus olhos, os humanos matando meus pais, eu preso sozinho e com fome em casa, minha vida na rua, sozinho tendo que me virar, todos traindo, machucando, ferindo e eu tendo que aprender a sobreviver, até encontrar aquele pedaço de luz que abrandou meu lado mais sombrio e minha falta de esperança. A primeira pessoa na minha vida que fez eu me preocupar com mais alguém, que fez eu sentir que poderiam haver pessoas boas. Também por causa dela conheci esse grupo estranho que acabei me apegando e me importando, cada um com seu jeito único, irritante e ainda assim cativante. Tudo por causa dela.
Escuridão. Era tudo que eu via. O passado foi negro, o presente estava clareando, mas meu futuro era absurdamente sem cor alguma, sem vontade, sem motivo, sem esperança, sem razões para continuar. Peguei seu corpo, coloquei nas costas, me despedi do grupo que me acompanhou até alí e saí para enterrar minha companheira, dar um descanso merecido. Tão nova, ainda com tantas aventuras para viver, para vivermos, mas acabou abruptamente, tudo porque eu fiquei para trás colhendo espólios de batalha, minha maldita ambição e cobiça. Não importa mais os dinheiro, as aventuras, os golpes… sozinho não tem mais graça.
A solidão voltou pra mim pra me mostrar que esperança, alegria e companhia é temporária, apenas uma isca para tolos nesse mundo estúpido e injusto. Deixei de ser só, apenas para descobrir que não conseguia mais ser sozinho. Poderia voltar a andar com aquelas pessoas que estavam se arriscando na missão, mas para que? Para o mundo não ficar pior? E tem como ficar pior realmente? Se tinha, já ficou. Desejo que eles tenham mais sorte, tenham algo pelo que lutar, tenham esperanças ainda, pois a minha morreu.